Bem vindos...

Bem vindos...

Quem sou eu

Minha foto
Nós somos Andreza, Anna Kelly, Jéssica,Mayara, Mônica, Sabrina e o nosso novo integrante Aldemir apresentamos: O Blog informativo PORT. 3006. Neste blog mostraremos várias novidades relacionadas à educação, a língua portuguesa, ao vestibular e muito mais para que você possa ficar por dentro de todos esses assuntos. Procuraremos abordar temas atuais com o objetivo de mantê-lo bem informado. E também mostraremos as atividades feitas ao longo do ano nas aulas de português.

domingo, 4 de outubro de 2009

Alguns anos atrás (calhou de ser alguns anos atrás, mas poderia ter sido ontem,
amanhã) vi na esquina da minha casa alguns operários descansando. Eles estavam
sentados na grama, sem comer, sem conversar. Como é uma rua quieta, não podiam
nem se distrair vendo carros ou pessoas. Olhavam, acho, o muro de tijolos do outro
lado da rua, ou talvez alguma rachadura tortuosa na calçada. Estavam assim quando
desci a rua no caminho do supermercado, e continuavam assim quando voltei com
uma sacolinha na mão. Quando passei andando, olharam fixo pra mim; e eu não os
culpo, porque a minha passagem, em contraste com o muro e a rachadura, deve ter
tido para eles a importância cerebral que a obra de Aristóteles teve para Santo Tomás.
(Um ser humano se mexendo! Óia! O que será que ele tem na sacola, etc.)
Quem não lê está condenado a estar preso num lugar só. Eles não liam, e
por isso eram forçados a ficar ali naquela esquina olhando o asfalto (...) com
uma atividade mental provavelmente parecida com a da grama na qual estavam
sentados. Quando passei, e o deslocamento do meu corpo criou uma brisa, a
atividade mental deles talvez tenha subido drasticamente para o nível de um
dente-de-leão sendo despedaçado pelo vento. Mas isso é tudo.
(...) Na hora fiquei horrorizado. Percebi o que é ser iletrado: é ser forçado a
estar onde se está e na companhia em que se está. Como um cupim. Como uma
drosophyla melanogaster olhando para uma banana. Como um jogador de futebol
olhando para a capa de um livro de auto-ajuda, ou um sindicalista tentando ler Karl
Marx. Quem não lê, no entanto, geralmente se sente superior a quem lê. Se sente
mais prático, mais direto. “Me formei na escola da vida”. “Não tenho tempo para
essas coisas. Trabalho muito. Quando pego um livro pra ler, sinto sono”.
Não me basta dizer que quem não lê é uma espécie de castrado. Meu ponto
é que ele pertence a outra espécie. (...) Imagine o seguinte: alguém acabou de
entrar num clube que existe, digamos, desde a década de cinqüenta. Ele está
entrando no salão onde todos os membros estão reunidos. (...) Meu ponto é
este: que ele não sabe nada da história do clube. (...) Se lesse todas as atas do
clube, o novo membro saberia (...) sobre a história prévia do clube e as correntes
invisíveis de amizades e hostilidades que circulam por ali. O novo membro é
necessariamente menos membro do clube do que os outros.
Assim no caso do clube, assim no caso do clube mais vasto chamado
humanidade. É um clube antigo - o que é mais um motivo para ler as atas. Quem
não leu é menos membro do que quem leu. Talvez nem sequer seja membro.
Claro, deve ser bem-tratado; que se sente e converse com todo mundo, e em
nenhum momento seja humilhado. Mas não é bem um dos nossos, é? (...)
Só mais uma coisa, para que não pensem que estou falando de pobres. Não
estou falando de pobres. Estou falando de iletrados. Isso inclui a maioria dos ricos
do país. Executivos, de modo geral, são como os operários do início deste texto,
mas com a seguinte diferença: a rachadura tortuosa na calçada recebeu o nome
de Nasdaq, ou de Projeção de Custos para o Segundo Trimestre. Mas a falta de
intelectualidade é a mesma.
Ser humano, ao contrário de ser uma joaninha, é uma aquisição cultural. Para
ser uma joaninha, basta nascer no corpo de uma joaninha. Mas para ser humano,
não basta nascer num corpo humano, (...) é preciso ler.
Silva, Alexandre Soares. Quem não lê não é humano. In: Digestivo Cultural, 03/05/02.

Nenhum comentário:

Postar um comentário